''A gaguez incomoda quem a produz e quem a escuta. Provoca no ouvinte uma maior ou menor ansiedade. Estabelece-se um jogo muito interessante. O gago tenta disfarçar a gaguez e o ouvinte tenta parecer que não repara nela. Esta situação é extremamente curiosa pois, espantosamente, parece que as pessoas não vêm o absurdo que a caracteriza. Tanto o gago como o ouvinte tentam tapar o sol com uma peneira. O gago gagueja, o outro acaba-lhe as frases ou remove-se de impaciência, no entanto esta situação não se mantém por má-fé ou demência de qualquer dos dois. Estão presos à equação que fazem da situação. É tido por falta de educação apontar os defeitos dos outros portanto, o interlocutor do gago não pode, sob pena de se tornar ofensivo, clarificar a situação. Resta-lhe não falar no assunto e tentar mostrar que não dá pela existência da gaguez. Nesta situação não se dá conta que só se pode disfarçar qualquer cosia que se percebe ou seja, aquilo que o interlocutor acaba por fazer é afirmar que nota a gaguez e mais, que nota tanto que se sente na obrigação de disfarçar. Quem gagueja está tão ocupado em tentar controlar e encobrir a gaguez que cada vez gagueja mais e não vê nenhum motivo para fazer referência explícita aquilo que se passa entre os dois.Com estes pressupostos ficam os dois parceiros do processo de comunicação impedidos de falar sobre (metacomunicar) o mesmo, enquanto comunicam, objectivamente o contrário daquilo que desejariam, através dos comportamentos de gaguez e disfarce, respectivamente.''
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