quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Vamos à Rua!!

"Se fosse pai\ mãe\ familiar de uma criança com gaguez o que gostaria de saber sobre este problema?"
Com o objectivo de tentar perceber as dúvidas das pessoas sobre a Gaguez, vamos para a rua colocar a questão e tentar esclarece-las.
Todas as semanas iremos publicar as dúvidas encontradas e posteriormente informação sobre a mesma.
Pois a dúvida de um pode ser a dúvida de outros.



1) ''Qual deverá ser a minha atitude como pai perante o problema de meu filho, caso seja detectada uma gaguez?''


 Resp: Os pais devem aceitar a disfluência da criança, não atribuir demasiada importância mas também não demonstrar de todo indiferença e, manter o contacto visual com a criança. Repare que os pais deverão ser os primeiros a aceitar. Por vezes também é necessário confortar a criança. No discurso é importante valorizar o conteúdo e não a forma como ele o diz.






 2) ''É verdade que a gaguez se agrava nas primeiras consultas de terapia?''

 Resp: Por vezes a gaguez tende a agravar-se após algumas sessões pois existe uma consciencialização por parte do paciente. Isto acontece em quase todo o tipo de terapia, repare que quando reconhecemos um problema temos sempre tendência a lutar contra ele, e isso reflete-se. Neste caso, a gaguez não se agrava! Simplesmente surge com mais frequência.


 3) ''Tenho conhecimento de uma criança que apresentou períodos na infância em que falava com alguns bloqueios, entretanto verificou-se apenas uma fase passageira. Poderá ter tido gaguez temporariamente?''


Resp:  A infância caracteriza-se por ser uma etapa em que a criança esta permanentemente a adquirir e a formar conceitos. É sem duvida uma fase de extrema importância. Por vezes a criança poderá apresentar alguns bloqueios na fala pois quer expor o seu ponto de vista com conceitos ou léxico que ainda não sabe utilizando. Este tipo de bloqueios não passam de excitações.


4)‘’será realmente necessário terapia da fala para se tratar o problema da gaguez? Não sará a mesma coisa dizer para eles respirarem e terem calma?’’


Os gagos acabam por si próprios por desenvolver mecanismos que os ajudam a controlar tudo o que é inerente a gaguez. O terapeuta tem o conhecimento clínico  define etapas de tratamento, adapta o tratamento bem como os instrumentos de avaliação aplicados consoante a pessoa em questão. Faz parte também do trabalho do terapeuta fazer uma avaliação do estado do paciente e de uma anamnese para que os pais e educadores tenham noçao do estado do presente. Esta parte do processo chama-se ''intervenção indirecta'', e é essencial para que o tratamento seja eficaz e não regrida. 


5)'' Poderá de alguma forma a gaguez estar ligada a insegurança?''


Consideramos esta pergunta bastante pertinente. Na verdade a gaguez, está e não está ligada à insegurança, porque para desenvolver gaguez são necessários factores de varias origens, como ja foi referido. Existem gagos extremamente seguros! quantas vezes ate nos, indivíduos sem qualquer tipo de patologia apresentamos bloqueios ao discursar, ao falar com pessoas que nos intimidam. Para um gago situações que exijam pressão fazem com que os bloqueios sejam ainda mais acentuados do que em situações normais. 



6) ''É comum crianças gagas serem alvo de gozo por parte de outras crianças. Qual é o impacto deste tipo de situações no individuo?''

 A reacção do individuo alvo de gozo é evitar este tipo de situações.  Ou seja criança evita a exposição  torna-se tímida  e desenvolve mecanismos para compensar a dificuldade. A longo prazo muitas delas evitam seguir os seus sonhos (profissão, relação com os outros, etc) pois consideram-se incapazes de o fazer.



7)''Existe cura para a gaguez? Já ouvi falar de dispositivos que fazem com que a gaguez desapareça.''


Resp: Para a esclarecer a sua pergunta começo por dizer que a gaguez não é simplesmente bloqueios e hesitações na fala. Um gago tem características muito próprias  Houve-se falar em medicamentos, dispositivos etc, mas todos estes instrumentos apenas devem ser usados para intervir.Nos, como terapeutas da falar, devemos adaptar-nos as pessoas, porque todas respondem de maneiras diferentes aos mais variados tipos de tratamento, por isso um medicamento pode resultar numa pessoa e noutra não, desbrotando ainda mais sentimentos de frustração por parte desta. Isto pode provocar uma regressão no tratamento. 

8)‘’A gaguez tem a ver com a inteligência da criança? Ou tem origem em algum défice cognitivo? ’’

A gaguez não se relaciona de maneira nenhuma com a inteligência da criança, nem muito menos é produto da ansiedade por parte da mesma.

9)Tenho um colega de trabalho que por vezes interrompe os discursos de outras pessoas ou aproveita sempre o momento de confusão para se expressar. Não acha que isto vai dificultar a transmissão do que ele tem para dizer?
É comum tanto nos adultos como nas crianças a tendência para interromper o discurso das pessoas para posteriormente se expressarem. Não deve ser considerado este um comportamento desajustado, por a criança ou o adulto só esta a aproveitar um momento em que as pessoas vão dar menos atenção ao que ela tem para dizer, ou seja vai ser alvo de menos atenção. Para o gago, pode ate ser facilitador.

10) ‘’Eu tinha um gago na minha turma que era uma pessoa super distante e por vezes mal educada. Mesmo bruta a falar. ‘’

Resp: Por vezes para um gago, falar torna-se angustiante. Para uma criança é importante que os pais se apercebam disso e respeitem. Nestes casos em que a criança se encontra frustrada é importante também que os pais comuniquem este estado de espírito aos professores (volto a realçar a importância da comunicação professor-entidades paternais). Deste modo o professor poderá adaptar as actividades á criança, desde que não se torne uma constante. Por vezes as crianças reagem mal pois apercebem-se de que os pais e professores repararam que ela esta um pouco mais em baixo, outras vezes é motivante para elas.
Então e se não for gaguez?
Como anteriormente já referimos, a aquisição da linguagem é um processo que embora seja natural, é também bastante complexo! E é neste tipo de questões que achamos importante realçar o trabalho do terapeuta da fala. Para saber se os comportamentos correspondem a uma gaguez a consulta com um terapeuta da fala é fundamental. Ele sabe como avaliar e despistar uma gaguez, pois tem conhecimento e acesso a material que avalia e da dados específicos para esse tipo de problema. Voltamos também a realçar a importância da intervenção ou despistagem precocemente.



11)‘’ Após ter feito uma leitura pelo vosso blog cheguei a conclusão de que é importante que passem despercebidas as minhas preocupações acerca da disfluência do meu filho, pois esta pode ser normal para a idade. E ainda mais o papel do educador de infância na detecção do problema. Mas terá o educador de infância competências para detectar este tipo de situações? E se ele me alertar de um problema que não existe? Vou prejudicar o meu filho?

Resp: o educador de infância pode ou não ter conhecimento desta problemática. No entanto quer pela formação, quer pela possível experiência irá detectar que algo não esta bem e aí alertar as entidades paternais. Quando falamos na sua importância, falamos principalmente depois do problema ser detectado, para que haja uma consciencialização por parte do mesmo ate para conseguir explicar a turma o que é  a gaguez _(tal como teria de fazer com outros problemas) e poder fazer parte da equipa que intervém indirectamente no processo terapêutico da criança. Após feita uma pesquisa da nossa parte, chegamos a conclusão que existe pouca informação acerca desta problemática, daí a importância da divulgação da mesma. Devemos ter em conta que o educador continua a ter uma máxima importância na detecção de perturbações e assume um papel fundamental na construção da identidade social e individual das crianças.

12) "Então o meu filho hesita a falar e já é gago? "

Não. Tratando-se da gaguez inicial existem outros factores inerentes, tais como tensão laríngea, piscar de olhos. A criança já começa a reparar que não fala como os outros meninos e pode ate dizer ‘’mama! A palavra não sai!’’. Existe todo um conjunto de factores que distinguem aquilo que é normal daquilo que é patológico, mas o melhor, volto a repetir, é consultar um especialista na área.
Por vezes as crianças podem ter outras dificuldades a nível linguístico que as fazem hesitar sem ser gaguez, que acaba também por ser despistada numa consulta.


13)‘’eu, como educadora e pessoa que só sei o que é a gaguez através do senso comum, como poderei ajudar uma pessoa gaga?’’

Tal como os pais, os educadores também se devem informar acerca desta problemática. Estudos revelam que existem cada vez mais crianças gagas, pois as exigências que lhes são impostas são cada vez mais e havendo uma predisposição por parte da mesma, a gaguez pode fluir. Inicialmente deveria obter informação credível acerta desta problemática, posteriormente deveria falar com o profissional que estaria a trabalhar com a criança para poder fazer parte da intervenção indirecta. Assim poderia adaptar as actividades aquela criança, perceber os seus limites e agir de acordo com aquilo que a terapeuta achasse importante se realizar em contexto sala de aula e com o grupo. ‘’O papel central do educador é sobretudo ser um bom comunicador, capaz de mobilizar o seu comportamento não-verbal, gestos, expressão facial, contacto visual, no sentido de transmitir a criança um clima de segurança. (…) Num mundo onde a comunicação impera, onde todas as experiências e vivências do ser humano são condicionadas pela linguagem, é imperativo uma intervenção precoce, essencial para diminuir e mesmo evitar o sofrimento causado pelo estigma social da gaguez, pois na verdade a fala é uma das dimensões mais visíveis do ser humano.



14)"como explicar aos pais o lado negativo da gaguez? E se eles não aceitam?’"

 Devemos explicar que a gaguez não tem de interferir negativamente na vida da criança ou ate mesmo no futuro da mesma. A terapia da fala tem como objectivo a atenuação da gaguez, quando este é o problema em mãos, e das suas implicações negativas na pessoa em questão. É importante que os pais percebam que existem períodos na vida em que o desenvolvimento da criança ocorre a um ritmo mais rápido e que como tal este tipo de intervenção precocemente tem uma probabilidade de ser bem-sucedida do que noutro período qualquer do desenvolvimento, e isto é explicado aos pais. A terapia da gaguez tem como meta ajudar a criança. E o terapeuta da fala ajuda a criança a ser um melhor comunicador, com confiança das suas competências e habilidades, capaz de controlar as emoções negativas que surgem como consequência da incapacidade de falar fluentemente bem como a consciencialização do próprio problema.




15)"Quando a criança é pequena, será que se apercebe do problema? devemos informa-la?''

Resp: é importante para uma criança gaga perceber o problema da gaguez. e isto faz parte da intervenção terapêutica. O primeiro passo para o sucesso do tratamento é a consciencialização, repare que a criança precisa de saber o porque de ''a palavra não sair'', o porque de sentir alguma tensão quando fala! A criança ao obter este tipo de informação vai acabar por se sentir mais informada, integrada nos procedimentos terapêuticos  e poderá ate explicar aos colegas o problema afirmando-se com muito mais segurança, sendo este um dos objectivos da consciencialização por parte desta.





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